Punk - O começo do fim do mundo

Por: Emerson Nunes

Na Era Elisabetana, Shakespeare já havia utilizado a palavra punk. James Dean também, durante uma briga de gangues; mas ela ganharia o contexto ideal pouco tempo depois. O ano era 1972, o mundo assistia ao lançamento do filme Laranja Mecânica. O cenário: uma Inglaterra violenta e futurista, onde jovens vitimados pelo sistema se divertiam fazendo travessuras. Para alguns críticos o filme de Kubrick estava repleto de significados que refletiam a situação social e política da época, mas para outros era uma nova forma de protesto. O filme se tornou preferido entre os jovens.

Na mesma Inglaterra shakespeariana, Malcon Mclaren possuía uma loja chamada Sex, que vendia artigos sadomasoquistas, e entre os freqüentadores estavam alguns jovens que iriam formar umas das bandas mais importantes da cena punk: The Sex Pistols. Mclaren, claro, seria o empresário e faria de tudo para se mostrar como o criador e idealizador do movimento.

Esses jovens não sabiam tocar, mas estavam cheios de todas aquelas canções ornamentadas e repletas de instrumentos e temas conceituais, feitas na década anterior. Resolveram então fazer canções simples, com dois ou três acordes e alguns versos colegiais ou de protesto. Era o início do 'it yourself' e o surgimento das primeiras bandas punks como Sex Pistols, Clash, Damned e Stranglers. Seria um retorno a estética minimalista, onde baixo, guitarra e bateria voltavam a assumir os lugares principais dos palcos, que antes pertenciam a bandas de glam rock e outras coisas purpurinadas e temáticas.

O movimento punk seria uma resposta adolescente mais interessada no caos do que na música como diria Johnny Rotten, vocalista do Pistols. Garotos e garotas começaram a usar maquiagem escura nos olhos, cabelos com um ou mais tipos de cores e cortes. As roupas, geralmente pretas, eram compradas nas lojas mais baratas da cidade, alguns preferiam rasgar e transformá-las em farrapos ambulantes, com grampos e alfinetes dos mais variados modelos e tamanhos. A intenção era demonstrar originalidade e personalidade.

Essa postura agressiva também existia com as bandas e era o que chamava atenção durante as apresentações. Canções despidas de arranjos, pouca gente no palco e muita energia. Foi assim que os primeiros punks roubaram a atenção da imprensa especializada e de pessoas que escreviam fanzines e xerocavam para distribuir e divulgar shows e ideais, a exemplo de Mark Perry, que abandonou o emprego para produzir o Sniffin´ Glue (cheirando cola). De uma hora para outra o Punk passou a ser a nova moda e estilistas como Yves Sant Laurent utilizariam o conceito em uma nova coleção.

Os Estados Unidos precisavam responder a altura e devolveram com o lançamento dos Ramones, Iggy Pop e the Stooges, Black Flag e outros grupos que apareceram na mesma época.

No Brasil as coisas geralmente chegam com um certo atraso. Com o punk não foi diferente. Aqui os primeiros nomes datam de 1978; bandas como Restos de Nada e Condutores de Cadáver. Mas em 1982 os jovens proletariados de São Paulo começaram a se juntar na garagem dos pais e formariam os primeiros grupos como Olho Seco, Cólera, Fogo Cruzado, Ratos de Porão, Setembro Negro, Anarcólatras e muitas outras. O conceito era praticamente o mesmo: jovens revoltados com o sistema, interessados em expressar suas idéias politizadas. Em Brasília, na mesma época, começaram a surgir bandas como Escola de Escândalo, Plebe Rude e Aborto Elétrico, que depois originaria Legião Urbana e Capital Inicial.

Com a má impressão deixada pelos punks depois de incidentes e acontecimentos em shows, o movimento começou a perder força। Mas o pessimismo e a crítica social nas letras são os principais vestígios de uma revolução jovem que mudou a moda, a música e o comportamento de muita gente.

fonte: http://ibahia.globo.com/rock/materias_interna.asp?modulo=2882&codigo=126410